quinta-feira, 31 de maio de 2018

DOENÇA DE CHAGAS

TRIPANOSSOMÍASE AMERICANA
(DOENÇA DE CHAGAS)

1. INTRODUÇÃO

Moléstia diretamente ligada às condições socioeconômicas humanas, constituindo-se em um dos mais sérios problemas médicos brasileiros. Estima-se que nosso país tenha hoje cerca de 8 milhões de chagásicos, principalmente na zona rural. São pessoas que provavelmente terão sobrevida reduzida, pois muitos doentes falecem em torno de 30 ou 40 anos de idade. A doença começou a ser pesquisada no início do século XX pelo brasileiro Carlos Chagas, que também descobriu e descreveu seu causador, seus transmissores e reservatórios naturais e ainda parte da sintomatologia.

2. AGENTE ETIOLÓGICO

O protozoário causador da doença de Chagas é o flagelado Trypanosoma cruzi. Seu nome, dado por Carlos Chagas, é uma homenagem prestada ao médico Dr. Oswaldo Cruz. São protozoários encontrados no intestino de diversas espécies de triatomíneos, insetos popularmente conhecidos como barbeiro.


3. VETOR

O protozoário é transmitido ao homem por um inseto hematófago conhecido popularmente como barbeiro, chupão, bicudo, fincão ou chupança, que são nomes populares dados a uma série de diferentes gêneros de insetos, dos quais o mais conhecido é o Triatoma. Este, tempos atrás, era habitante de matas no interior ainda não colonizado e sugava o sangue de animais silvestres como o tatu, o gambá e a cutia. Com o desbravamento do interior do País, matas foram destruídas e o homem começou a construir precárias habitações de sapé e pau-a-pique, em cujas paredes, cheias de frestas, os insetos passaram a fazer seus ninhos. Sua fonte de alimento também se alterou e ele passou a utilizar o sangue de animais domésticos, como o cão e o gato, além, é claro, do próprio homem, iniciando sua contaminação. Assim nasceu a doença de Chagas humana. De hábitos noturnos, os barbeiros hoje distribuem-se principalmente pelos Estados do nordeste e centro-oeste do País, além do interior de Minas Gerais. Não são comuns no Estado de São Paulo devido às bem sucedidas campanhas de erradicação.


ATENÇÃO! Entre as espécies de triatomíneos que são os principais vetores da doença de Chagas no Brasil estão o Triatoma infestans e outros dos gêneros Panstrongylus e Rhodnius.


4. LOCAL DE AÇÃO

No organismo humano, o Trypanosoma cruzi pode ser encontrado no sangue circulante, em sua forma tradicional alongada e dotada de flagelo livre, e nos tecidos muscular (sobretudo cardíaco) e nervoso, em que se apresenta com forma esférica e sem flagelo livre. No inseto, formas do protozoário são encontradas sobretudo no intestino.


ATENÇÃO! Além da cardiopatia chagásica, são comuns os chamados megas: megaesôfago (aumento anormal do esôfago) e megacólon (aumento anormal do intestino grosso). Em ambos os casos, a destruição das fibras musculares lisas causa obstrução do interior oco desses órgãos, sendo necessária a remoção da porção obstruída. Por falta de movimentos peristálticos, ocorrem soluço e regurgitação - inclusive de fezes.


5. CICLO BIOLÓGICO

Quando o barbeiro, no seu hábito hematófago, ingere o sangue de uma pessoa doente ou de um animal que seja reservatório natural do Trypanosoma cruzi, as formas parasitárias se desenvolvem em seu tubo digestivo até atingirem a porção posterior do intestino. Normalmente, um barbeiro torna-se transmissor do protozoário cerca de 20 dias após adquiri-lo via alimentação, podendo permanecer assim por toda a vida, que dura aproximadamente um ano.


Ao sugar o sangue de uma pessoa sadia, o inseto deposita suas fezes na pele lesada e os protozoários alcançam a corrente sanguínea. Podem atingir diferentes tecidos corporais, nos quais se reproduzem, rompem as células e retornam à corrente sanguínea, alcançando novos tecidos. Dez a quinze dias após a contaminação, a doença atinge sua fase mais aguda e o número de parasitas no sangue torna-se tão alto que pode levar o indivíduo à morte. Se a quantidade de protozoários diminuir por ação do sistema imunológico, o doente entra na fase crônica e nela pode permanecer por muitos anos.


6. TRANSMISSÃO

A forma comum de transmissão da doença de Chagas é pela penetração do protozoário, presente nas fezes do barbeiro, quando existem lesões na pele da pessoa. Entretanto, outras formas de transmissão já foram constatadas. Em regiões onde a incidência da moléstia é alta, transfusões utilizando sangue de doadores contaminados são freqüentes e vários casos da doença foram registrados com essa origem. A transmissão congênita, ou seja, da mãe doente para o feto através da placenta também pode ocorrer, podendo provocar aborto ou morte da criança. O parasita também já foi encontrado no leite materno e pode contaminar os bebês em fase de amamentação, se houver lesões em sua boca ou no tubo digestivo.



OBSERVAÇÃO - DEVEMOS FICAR ATENTOS NOS ALIMENTOS!




7. SINTOMAS

A contaminação pelo protozoário se caracteriza por manifestações típicas nas regiões do corpo por onde houve a entrada do parasita. O chagoma é uma inflamação que surge no local da pele por onde o Trypanosoma cruzi penetrou, enquanto o sinal de Romaña resulta de infecção do globo ocular, com grande inchaço das pálpebras. Aliás, na fase aguda que se segue à contaminação, reações inflamatórias são comuns devido à multiplicação intracelular do parasita, o que provoca mobilização do sistema imunológico. Pode se seguir um período de latência de duração variável (10 a 20 anos), sem grandes manifestações, e o chagásico entra na fase crônica, quando começam a surgir os problemas cardíacos e intestinais. Insuficiência cardíaca, cardiomegalia (dilatação do coração), problemas na formação e condução dos estímulos cardíacos, megaesofagia (dilatação da parede do esôfago) e megacolia (dilatação da parede intestinal) são os aspectos mais freqüentes, que podem levar à morte.

2. MEDIDAS PROFILÁTICAS

A transmissão da doença de Chagas está intimamente ligada às péssimas condições habitacionais em que vive boa parcela de nossa população, sobretudo no meio rural. A melhoria das habitações, com a construção de casas de alvenaria ou a reforma das casas já existentes, com o preenchimento das frestas com reboque, seriam medidas fundamentais. O combate ao barbeiro, com campanhas de erradicação como as realizadas no Estado de São Paulo, que reduziram grandemente o número de casos da doença por esta via de transmissão, seria outra medida importante. A utilização de telas nas janelas e redes de filó sobre as camas são paliativos que podem ser adotados enquanto não se consegue a erradicação definitiva do inseto. Estuda-se o combate ao barbeiro através de uma técnica de controle biológico que consiste na utilização de um fungo parasita ou de um pequeno inseto cujas larvas destroem os ovos do barbeiro. O controle das doações de sangue em hospitais e bancos de sangue é decisivo para prevenir a contaminação por uma via que ganhou importância nos últimos anos. A doença de Chagas não tem cura e seu tratamento ainda é ineficaz, reforçando a necessidade de medidas profiláticas adequadas.


Moradia típica das regiões rurais conhecida como cafuas ou casas de pau a pique.

- Condições de moradia;

- Combate ao inseto transmissor;

- Educação sobre o modo de transmissão e métodos preventivos;

- Uso de telas em janelas;


- Uso de mosquiteiros sobre as camas (redes de filó);


- Uso de inseticidas;


- Controle da qualidade dos sangues usados nas transfusões.